Alimentos Crus: Podem Oferecer Riscos aos Animais?
Há uma onda crescente de demanda por produtos naturais, livres de ingredientes artificiais e com menor nível de processamento industrial possível, seja visando benefícios ambientais ou na saúde. Pessoas que optam pela dieta natural ou orgânica tendem a aplicar esta tendência dietética a seus pets, e outros o fazem por acreditarem ser mais adequado à natureza ancestral carnívora de seus animais. Desta forma, são fornecidos alimentos de origem animal crus, juntamente com vegetais ou suplementos [1,2]. Mesmo tutores que fazem uso de dietas convencionais para a alimentação de seus pets eventualmente fornecem a eles alimentos crus, como petisco ou mesmo para administração de medicamentos [3].
É importante salientar que, até o momento, não há dados científicos que comprovem a superioridade deste método de alimentação para o organismo animal em comparação ao uso de alimentos cozidos [2]. Mas afinal, alimentos crus podem oferecer riscos à saúde dos animais? A resposta é sim.
Dentre os potenciais malefícios do consumo de alimentos crus, podemos citar: desequilíbrios nutricionais, lesões dentárias, obstrução ou perfuração gastrointestinal, especialmente por ossos e contaminações por microrganismos (destacam-se a salmonelose e toxoplasmose) ou vermes, que podem inclusive serem transmitidas a humanos (zoonose!) [2-6]. O potencial para contaminação acontece porque estes produtos não sofrem tratamento térmico ou esterilização e a refrigeração ou congelamento nem sempre é o suficiente para inibir o crescimento dos patógenos [3-5].
Exemplos de outros alimentos cotidianos que podem ser prejudiciais se fornecidos crus aos animais são a mandioca e o ovo. A mandioca na sua forma in natura contém glicosídeos cianogênicos que são bastante tóxicos e podem resultar em óbito [5]. Já a clara do ovo possui enzimas inibidoras da tripsina que prejudicam a digestão proteica, além de conter avidina, substância que inibe a absorção da biotina (vitamina B7), resultando na deficiência desta e em alterações da pele e pelagem, falta de apetite, perda de peso e até mesmo sinais neurológicos [5].
Caso haja o interesse em fornecer qualquer tipo de dieta não convencional a seu pet, consulte um médico-veterinário ou zootecnista para ser informado dos benefícios e malefícios relacionados, formas de preparo e fornecimento, para que seu melhor amigo tenha uma vida longa e saudável a seu lado. O site da FDA (Food and Drug Administration) contém informações adicionais de leitura recomendada [6].
Referências
1. MICHEL, E.K. Unconventional diets for dogs and cats. The Veterinary Clinics of North America: Small animal practice, v.36, n.6, p.1269-1281, 2006.
2. FASCETTI, A. J.; DELANEY, S. J. Commercial and Home-Prepared Diets. In: FASCETTI, A. J.; DELANEY, S. J. (Eds.), Applied Veterinary Clinical Nutrition, California: John Wiley & Sons, 2012, p. 95-108.
3. OFFE, D.J.; SCHLESINGER, D.P. Preliminary assessment of the risk of Salmonella infection in dogs fed raw chicken diets. The Canadian Veterinary Journal, v.43, n.6, p.441-442, 2002.
4. FINLEY, R.; RIBBLE, C.; ARAMINI, J. et al. The risk of salmonellae shedding by dogs fed Salmonella-contaminated commercial raw food diets. The Canadian Veterinary Journal, v.48, n.1, p.69-75, 2007.
5. HANDL, S.; IBEN, C. Foodstuffs toxic to small animal – A review. The European Journal of Companion Animal Practice, v.20, n.1, p.36-44, 2010.
6. FOOD AND DRUG ADMINISTRATION (FDA). Get the Facts! Raw Pet Food Diets can be Dangerous to You and Your Pet. Silver Spring, 2018. Disponível em: Get the Facts! Raw Pet Food Diets can be Dangerous to You and Your Pet | FDA . Acesso em: 17 abril. 2019.