Dieta caseira ou ração comercial: o que escolher?
A resposta para esta pergunta depende de uma série de fatores relacionados ao perfil do tutor e às características do cão ou gato. Muitos proprietários optam pela dieta caseira por questionarem o emprego de coprodutos da indústria alimentícia humana nos alimentos comerciais.
Ingredientes, como farinha de vísceras, por exemplo, não são utilizados pela indústria de alimentos humanos devido ao baixo apelo comercial e, então, são comercializados para a indústria pet. Vale lembrar que os coprodutos podem apresentar valor nutricional importante, mesmo que o apelo para consumo humano seja baixo [1]. Na dieta caseira, alguns desses coprodutos, como as vísceras (coração bovino, fígado e moela, por exemplo) são incluídas como ingredientes nas receitas e apresentam valor nutricional importante para a composição do alimento, pois são fontes de vitaminas e minerais essenciais, além de proteína e aminoácidos, assim como muitos coprodutos utilizados nas rações comerciais. Quanto ao preparo, um alimento caseiro demanda muito mais tempo do que fornecer um alimento comercial [1], além dos riscos dos tutores mudarem as receitas de alimentos formulados por profissionais capacitados [2,3].
Outro fator importante considerado pelos proprietários é o custo da alimentação. Por muito tempo acreditou-se que alimentos caseiros tinham menor custo em comparação aos alimentos comerciais, e isso pode ser verdade quando se fornece uma dieta sem suplemento e desbalanceada. Recentemente, avaliou-se a diferença de custo de alimentos comerciais extrusados e alimentos caseiros [4]. Neste estudo, os alimentos caseiros apresentaram custo de US$ 2,79/1000 kcal a mais do que as rações, informação que demonstra que alimentos caseiros balanceados podem ser mais caros do que as rações. No Brasil, simularam diferentes situações de porte em cães e compararam os custos de um alimento caseiro com alimento comercial e também compararam dietas caseiras coadjuvantes com alimentos comerciais coadjuvantes, para todas as situações, o custo da alimentação caseira foi mais elevado [5]. Dessa forma, apesar da alimentação caseira ser uma opção interessante para alimentar os pets, principalmente aqueles que possuem doenças às quais não há alimento comercial, em função dos riscos implícitos, a Associação Mundial de Medicina Veterinária (WSAVA) considerou em suas diretrizes de avaliação nutricional, publicadas em 2011 [6], as rações como uma opção mais segura de manejo nutricional dos pets, opinião que esta Sociedade também corrobora.
Referências
1. MICHEL, K. E. Unconventional diets for dogs and cats. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 36, p. 1269–1281, 2006.
2. OLIVEIRA, M. C. C.; BRUNETTO, M. A.; DA SILVA, F. L.; JEREMIAS, J. T.; TORTOLA, L.; GOMES, M. O. S.; CARCIOFI, A. C. Evaluation of the owner’s perception in the use of homemade diets for the nutritional management of dogs. Journal of Nutritional Science, v. 3, n. e23, p. 1–5, 2014.
3. HALFEN, D. P.; OBA, P. M.; DUARTE, C. N.; SANTOS, J. P. F.; VENDRAMINI, T. H. A.; SUCUPIRA, M. C. A.; CARCIOFI, A. C.; BRUNETTO, M. Tutores de cães consideram a dieta caseira como adequada, mas alteram as fórmulas prescritas. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 37, n. 12, p. 1453–1459, 2017.
4. CASNA, B. R.; SHEPHERD, M. L.; DELANEY, S. J. Cost comparison of homemade versus commercial adult maintenance canine diets. 17th Annual AAVN Clinical Nutrition and Research Abstract Symposium. Anais...2017.
5. VENDRAMINI, T. H. A.; PEDRINELLI, V.; MACEDO, H. T.; ZAFALON, R. V. A.; RISOLIA, L. W.; RENTAS, M. F.; MACEGOZA, M. V.; GAMEIRO, M. V.; BRUNETTO, M. A. Homemade versus extruded and wet commercial diets for dogs: Cost comparison. PLoS ONE, v. 15, n. 7, e0236672, 2020. https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0236672.
6. FREEMAN, L.; BECVAROVA, I.; CAVE, N.; MACKAY, C.; NGUYEN, P.; RAMA, B.; TAKASHIMA, G.; TIFFIN, R.; TSJIMOTO, H.; BEUKELEN, P. Nutritional Assessment Guidelines. Journal of Small Animal Practice, v. 82, p. 254–263, 2011.