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Dietas vegetarianas para Cães e Gatos

Dietas vegetarianas para Cães e Gatos
 

    Uma pesquisa realizada pelo IBOPE em 2018 a pedido da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) apontou que, no Brasil, 14% da população se declarava vegetariana, o que reflete um crescimento de 75% em relação aos dados de 20121. Em 2023, estima-se que esse número seja ainda maior, podendo atingir 20% da população. Entre as motivações estão a preocupação com o bem-estar de animais de produção, com o meio ambiente e a sustentabilidade, bem como a saudabilidade da dieta sem carnes.
    A escolha de uma alimentação vegetariana por parte dos tutores acaba algumas vezes se estendendo a seus cães e gatos. Há uma década, eram raros os alimentos pet com esse perfil, mas hoje, além de dieta caseira vegetariana, já é possível encontrar algumas marcas comerciais mesmo no Brasil. Segundo uma pesquisa da “The Insight Partners” citada por Gomes2 o mercado mundial de alimentação vegana para pets deve atingir USD$ 15,6 milhões em 2028, um aumento percentual de 67,7% em relação a 2021. Apesar de ainda representarem uma pequena parcela frente a enorme variedade de alimentos comerciais tradicionais, a projeção de crescimento indica que esse tipo de tendência não deve ser ignorada.     A avaliação da segurança de uma alimentação vegetariana, estrita ou não, para cães e gatos precisa ainda ser determinada em grandes estudos populacionais de longo prazo. O risco nutricional por deficiência primária ou desbalanço de nutrientes essenciais é a parte mais simples de ser avaliada e compreendida, assim como são bem conhecidas as boas práticas de fabricação e as metodologias de avaliação de conservação dos alimentos. Entretanto, outros aspectos como biodisponibilidade de nutrientes, presença de fitoquímicos e interação desse tipo de alimento com a microbiota do hospedeiro são aspectos que precisam ser ainda estudados e compreendidos.
    Sabe-se que cães e gatos são capazes de digerir e metabolizar muito bem carboidratos digeríveis, proteínas e gorduras de origem vegetal. Mas isso não elimina a necessidade de nutrientes que estão amplamente disponíveis ou só são encontrados no reino animal. São nutrientes essenciais de preocupação em dietas vegetarianas/veganas as vitaminas B12, B9, B1, D3, A, além da arginina, taurina e do ácido araquidônico.     Possíveis sintomas associados a deficiência nutricional em animais que consomem  uma dieta vegetariana são: cardiomiopatia dilatada e degeneração da retina por deficiência de taurina em gatos e algumas linhagens de cães, catarata em cães filhotes e hiperamonemia em gatos por deficiência de arginina, hiperparatireoidismo secundário nutricional e raquitismo por deficiência de vitamina D em cães e gatos, problemas oculares diversos por deficiência de vitamina A em gatos e cães, polineuropatia por deficiência de vitamina B1 em gatos, inapetência, neutropenia e anemia megablástica em cães por deficiência de cobalamina, fenda palatina em cães e redução do crescimento em gatos por deficiência de ácido fólico, e anormalidades reprodutivas e defeitos congênitos por deficiência de ácido araquidônico em gatos e cães3.     Recente revisão sistemática publicada por Dominguez-Oliva e colaboradores4, na qual foram avaliadas 16 publicações do tema, encontrou resultados controversos na literatura a respeito do impacto das dietas vegetarianas estritas (veganas) na saúde de cães e gatos. Dos seis estudos avaliados com gatos, alguns não encontraram sinais deletérios nos animais, principalmente os que utilizaram dietas suplementadas, e ainda os tutores associaram o consumo de uma dieta vegetariana estrita a melhor hálito e escore de condição corporal. Por outra lado, outros verificaram deficiência de taurina, hipocalemia e miopatia. Para cães não houve, nos 12 estudos avaliados, evidências de efeitos deletérios importantes, mas é preciso saber que os estudos controlados avaliados por Dominguez-Oliva et al4 eram de curta duração e que algumas deficiências nutricionais em animais adultos ocorrem em longo prazo. Além disso, mais da metade das pesquisas publicadas avaliadas foram baseadas na percepção de saúde do tutor em relação ao seu animal, o que pode trazer parâmetros subjetivos de saúde. Esses autores concluíram que não há evidências até o momento de efeitos deletérios desse tipo de dieta na saúde de cães e gatos, mas ponderam que os estudos são limitados, com amostra pequena e de curta duração. Os mesmos ainda indicam que tutores que optam por essa prática alimentar escolham alimentos comerciais, pois há menor chance de deficiência e desbalanço nutricional.     Por outro lado, um estudo nacional5 avaliou a conformidade nutricional de quatro marcas de alimentos vegetarianos disponíveis no Brasil, três para cães e uma para gatos, e concluiu que nenhum produto era completo e balanceado, não tendo o uso recomendado pelos autores pois deficiências importantes foram encontradas. Vale a observação de que algumas dessas deficiências eram provenientes de alimentos mal formulados, ou com baixo controle de ingredientes e processos, e não necessariamente ligados ao fato de serem alimentos de categoria vegetariana, mostrando que para essa categoria de alimento um corpo técnico qualificado é também primordial.     Estudos populacionais de larga escala e de longa duração ainda são necessários para verificar os possíveis efeitos adversos e/ou benéficos de uma alimentação a base de plantas para cães e gatos. Por essa razão, muita atenção deve ser dada ao status de saúde de cães e gatos submetidos a dietas vegetarianas. Por poder trazer consequências importantes irreversíveis, a prática não é recomendada ou dever ser vista com extrema cautela para gatos, cães filhotes e animais em reprodução.

PARA SABER:

  • Dieta ovo-vegetariana: dieta a base de plantas, ovos e derivados

  • Dieta lacto-vegetariana: dieta a base de plantas, leite e derivados

  • Dieta ovo-lacto-vegetariana: dieta a base de plantas, ovos, leite e derivados

  • Dieta vegetariana estrita: dieta apenas a base de plantas, sem componentes de origem animal

  • Vegano: individuo que tem dieta vegetariana estrita e não consome nenhum outro produto que tenha componente de origem animal, ou que tenha sido testado em animais, como cosméticos, sapatos, roupas etc. Autor: SBNutriPet

    Referências Bibliográficas


    1. Mercado Vegano - SVB Acessado em 27/09/2023


    1. Gomes, A. C. https://veganbusiness.com.br/veganismo-e-tendencia-no-mercado-para-pets/ (acessado em 02/10/2023).


    1. Delaney, S. J., Fascetti, A. J. Basic Nutrition Overview. Applied Veterinary Clinical Nutrition. Wiley Blackwell (ed), 2016.


    1. Domínguez-Oliva A., Mota-Rojas D., Semendric I., Whittaker A. L. The Impact of Vegan Diets on Indicators of Health in Dogs and Cats: A Systematic Review. Veterinary Sciences. 2023; 10(1):52. https://doi.org/10.3390/vetsci10010052. 


    1. Zafalon, R. V. A., Risolia L. W., Vendramini T.H.A, Ayres Rodrigues, R.B., Pedrinelli V., Teixeira F.A., et al. Nutritional inadequacies in comercial vegan foods for dogs and cats. PLoS ONE15 2020; (1):e0227046. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0227046 


29/09/2021 Autor: SBNutriPet